segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

TONY FRANK E O SONHO DE SER CANTOR RECONHECIDO

Tony Frank mostra em vídeo o seu grande e frustrante desejo de não ter-se tornado 
um cantor, ainda que não profissional, mas para realizar um permanente sonho: 
o de ser um bom cantor. Essa foi a alternativa que encontrou.

Tony Frank, pseudônimo de um jornalista, cronista social, acervista, historiador e escritor desde jovem alimentava o desejo de se tornar um cantor, mas pouco ou nada sabia sobre impostação de voz, melodia, harmonia e menos ainda tinha ritmo. Cantava ouvindo outros cantores, porém sempre fora do seu tom normal de voz, sem se dar conta que não conseguiria alcançar determinados tons e nem sabia distinguir entre os tipos de vozes masculinas, como tenor, barítino - que era o seu timbre de voz -, ou de baixo ou baixo profundo. Conhecimento que só veio a ter décadas mais tarde.

Mas Tony Frank, nome que foi inspirado pelo seus saudoso amigo Altair Carlos Colussi, que tinha um vozeirão e adorava cantar as músicas do "rei da voz" Nelson Gonçalves, quando ambos, como penetras, foram a uma festa de quinze anos da filha de Airton Pereira de Souza, então morando na subida da Rua Santos Ferreira, próximo ao Hospital Nossa Senhora das Graças e que trabalhava na Prefeitura Miunicipal de Canoas. Mais tarde viriam a se tornar seu amigos, assim que Tony Frank assumiu o cargo de Assessor Legislativo na Câmara Municipal de Vereadores. Ambos cantaram, pois Altair Carlos, já bastante "mamado", e depois de questionado sobre quem os havia convidado, disse: "Nós viemos a pedido para cantar na festa". Assim Altair apresentou Tony Frank, nome que inventou na hora, que cantou uma música italiana. Houve um total clima de desapontamento pela desafinação e quebra de ritmo. Logo após Altair, que desafinava e atravessa ainda mais do que Tony Frank, cantou a música "Hoje Quem Paga Sou Eu", de Nelson Gonçalves", aí vieram as vaias e o show acabou. Era a década de 60.

Mas Tony Frank continuou alimentando o sonho de ser cantor, ainda que não fosse profissionalmente, pois adorava cantar. Mas era desafinado, atravessava o ritmo, não mantinha a melodia corretamente. E o tempo foi passando e Tony, quase que incoscientemente, foi deixando de lado o sonho de ser cantor. Apenas sua mãe - mãe é mãe até nessas horas - foi a única a incentivá-lo, dizendo em algumas vezes: "Tony, tu canta muito bem".

Já adolescente, estudando no curso Técnico em Contabilidade, Tony Frank se apresentou numa festa do Colégio, no então Clube Comercial que havia na Rua Araçá. Antes, porém, ensaiara a canção "Oh, Mio Signore" com um violonista que aparecera sabe-se lá de onde, mas o músico não conseguia acompanhar o tom de voz de Frank que, irritado, resolveu, assim que chamado, se apresentar cantando à capela. Fato semelhante aconteceu nas Olimpíadas Estudantis de 1966, quando presidente seu colega de aula e amigo Roque Orêmio de Mello, cuja prova de cantores era realizada no Anfiteatro La Salle, na Rua Mck com capacidade para cerca de 700 pessoas. O anfiteatro lotado, o pai de Tony Frank sentado na primeira fila para assistir a primeira exibição do filho cantor. Um conjunto musical, que também não guardou o nome, foi destinado a acompanhar Tony Frank. Ensaiaram diversas vezes, mas por inexperiência e por ser um conjunto recém formado, também não conseguiram acompanhar o candidato a cantor Tony Frank no seu tom de voz. Determinado a se apresentar, já que fora convencido a não desistir, solicitou ao então presidente da UCE - União Canoense de Estudantes que lhe conseguisse um pouco de conhaque e um melhoral (diziam que tomando o melhoral desmanchado no conhaque deixava a pessoa num certo êxtase ou pasmo, um momentâneo prazer vivíssimo). E assim Tony Frank um tanto extasiado, quando chamado ao palco entrou como se um veterano muitíssimo acostumado, porém sem o conjunto que o deveria acompanhar. E mais uma vez interpretou a canção "No Ho Letà" à capela. Mesmo assim, dentre os 40 concorrentes, Tony Frank ficou em 6° lugar, sendo vencedor o jovem cantor Beto Morgado. Entre os membros da Comissão Julgadora estavam o jornalista, historiador, tradicionalista e poeta João Palma da Sul, autor dos livros "As Origens de Canoas" e "Pequena Cronologia Histórica de Canoas"; o músico fundador da Orquestra de Câmera de Canoas e funcionário público Ernâni Fibrônio de Freitas e o professor e regente do Coral de Canoas, Otávio José Longhi.

Em casa o pai de Tony Frank comentou a apresentação, elogiando ao mesmo tempo lamentando que não fora acompanhado de um conjunto musical como a maioria dos concorrentes. Mas teceu um especial elogio: "Eu não sabia que tu tinha essa desenvoltura toda no palco. Parabéns!"

Mesmo não conhecendo e nem entendendo de música, em 1966, quando passava férias em Farroupilha / RS, terra natal da minha saudosa mãe, na casa dos tios Roberto e Adélia Carlotto, passeando pela rua viu um cartaz chamando para um baile. O que chamou a atenção de Tony Frank foi uma frase poética que constava do cartaz. Saiu de lá cantarolando e inventando letra como se uma música. Assim que chegou na casa dos tios se apressou em apanhar uma caneta e escrever a letras e cantava repetidamente a música par não esquecer a melodia. Assim nasceu a sua primeira composição poético-musical, que ele intitulou de "Mundo Menino" ou "Gira Mundo". Era o período da Ditadura Militar e a letra era um protesto e assim nasceu um samba protesto. Em 1969, quando o Show Musical Caravelle rumou para São Paulo para a gravação do seu primeiro e único LP (long play), em vinil, o diretor do conjunto, Paulo Osni Finger tentou por diversas vezes fazer com que Tony Frank liberasse o samba protesto para fazer parte do disco. Mas Tony, como não o havia registrado junto à Ordem dos Músicos, não quis liberar o seu único "filho" musical. O mesmo aconteceu com a atriz, cineasta e cantora Vanja Orico, cuja canção Tony Frank mostrou a ela logo após o show que realizara no Anfiteatro La Salle, em Canoas, cidade onde herdou muitas terras da tradicional família dos Mathias Velhos. Vanja Orico gostou da música, mas pedira a Tony que a enviasse em uma fita cassete para ser ouvida, dar um retoque na melodia e fazer um arranjo. Mais uma vez, por não ter registrado. Tony Frank deixou de enviar a cópia da música gravada à capela como solicitara Vanja Orico, que faleceu no dia 28 de janeiro de 2015, aos 85 anos de idade.

Mas mesmo tendo alguns problemas de ordem técnica (falta de ritmo, impostação de voz e desafinação) não deixava de vez em quando de cantar em público algumas músicas que ele sabia a letra a gostava da sua melodia. Assim foi quando criaram o Bar Kalabar, na rua Guilherme Schell esquina Rua Araçá, quando o cronista social e jornalista Xico Júnior foi contratado como RP da casa pelo proprietário Alceu Piccinini. Havia um conjunto que tocava ao vivo e entre os músicos o contrabaixista Catulo Flores e o pandeirista Vênus. O espaço era livre prá quem quisesse cantar, declamar, etc. E como no início os frequentadores se mostravam tímidos, alguém do conjunto sugeriu que Tony Frank começasse a cantar alguma música prá incentivar e motivar os demais clientes. E assim foi: subiu no palco e cantou "Ninguém Chora Por Mim", música que fora gravada por Moacir Franco. Logo em seguida o saudoso Ulisses Machado Filho também se apresentou. E a partir daí outros clientes começaram a tomar coragem, pois Tony Frank passou a cantar praticamente todas as noites que ia no Kalabar. E o pessoal do conjunto pedia: "Qual é a música?". E ele respondia: "A mesma que já está ensaiada".

E numa certa noite quem compareceu lá no Kalabar foi o delegado de polícia e jornalista Paulo Sant´Anna, que apresentava um comentário sobre futebol na RBS/TV, feito esse que foi registrado pelo jornalista Xico Júnior, como comprova a foto.
Na foto o contrabaixista Catulo Flores, logo atrás o pandeirista Vênus, Paulo Sant´Anna com a Rainha das Piscinas do Canoas Tênis Clube, Rosane Fritzen.
Contatos via e-mail: la-stampa@ig.com.br